A forte onda synthpop revival que varre a música eletrônica atual continua gerando casos curiosos. Olha o duo nova-iorquino Shy Child, por exemplo. Imagine que seu recém-lançado "Liquid Love" fosse pras prateleiras no longínquo 1990 ao invés de 2010. Eu duvido muito que o pop eletrônico de forte sotaque oitentista perpetrado por Pete Cafarella (vocais, sintetizadores) e Nate Smith (bateria) fosse bem recebido naquela época - ainda mais usando esse bizarro teclado com braço semelhante ao de uma guitarra nas apresentações ao vivo - e ele provavelmente receberia um carimbo de "datado" na capa. Muito diferente das quatro estrelas (de cinco possíveis) que o The Guardian deu pro disco. A conclusão é um clichê surrado sem dó: não há nada mais antigo que o passado recente. Pode ser que para a nova geração de (muitos) sintetizadores nas mãos e (algumas) idéias na cabeça, o synthpop tenha surgido como alternativa viável de produzir música sintética acessível e que pode pegar tanto entre os fãs saudosistas do A Flock Of Seagulls quanto do The Presets. De vez em quando essas investidas resultam em espasmos pop de ótimos resultados, como algumas faixas deste "Liquid Love". Embora a dupla tenha escolhido a chiclete "Disconnected" para ser lançada como single, o oásis aqui é sem dúvida "Take Us Apart", com seus vocais dobrados à Supertramp e instrumental impecável - das slapadas do baixo à perfumaria de mil aromas dos teclados. A faixa-título também é OK: dançável, vocais em falsete, bom refrão. Pena que o disco não vai muito além disso, e a impressão que fica é de que o Shy Child realmente se intimidou diante da possibilidade de arriscar algo mais ousado do que cometer uma balada ("Dark Destiny") que deixaria os remanescentes do Mr. Mister orgulhosos, ou nomear uma faixa com o título de "Strange Emotion". Isso sim é cafona.
"Take Us Apart", Shy Child
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