O Easy Star All-Stars é um coletivo de reggae mezzo jamaicano mezzo americano. Reúne músicos e cantores do gênero, e oficialmente, grava desde 2003. O lance deles é curioso: regravar álbuns clássicos em formato de reggae. Poderia até ser um negócio meio oportunista, mas uma ouvida no trabalho da banda evidencia o talento dessa tchurba em verter coisas improváveis no ritmo abençoado por Jah sem objetivos comerciais claros. O barato aqui é provar que qualquer coisa pode virar reggae dos bons: até Pink Floyd e Radiohead. Foi assim que eles lançaram a primeira parte do projeto: Dub Side Of The Moon (2003), que nem preciso dizer que disco da banda de David Gilmour os Stars homenageiam. Em 2006 veio mais um ótimo trocadilho (Radiodread), e um álbum inteirinho de reggae em cima de OK Computer do Radiohead. Finalmente em 2009 foi a vez dos Beatles e seu Sargento Pimenta em Easy Star's Lonely Hearts Dub Band.
O mais novo desafio do Easy Star é ver o que aconteceria se o disco mais vendido de todos os tempos (Thriller, de Michael Jackson) tivesse sido gravado em Kingston. Nada fácil mexer com esse vespeiro, mas os Stars se dão bem, sim. Respeitando até a ordem das faixas, começam com uma "Wanna Be Startin' Somethin'" cheia de metais, mas sem o nheco-nheco do reggae: é num funk cru e redondinho que eles suam os dreadlocks. "Baby Be Mine" vira um ska de lindos vocais, "The Girl Is Mine" sai do pop romântico original e vai pras praias ensolaradas do Caribe (junto com Steel Pulse), "Thriller" ganha um baixo orgânico musculoso (substituindo o groove sintetizado original), enquanto "Beat It" cai de rotação numa batida preguiçosa. "Billie Jean" vem cheia de ecos dub e "Human Nature" parecia estar esperando por uma versão jamaicana de tão bem encaixada que ficou. Pra completar a sequência original, "P.Y.T. (Pretty Young Thing)" e "The Lady In My Life" são mais relaxadas e doces com seus vocais femininos. Pra fechar o álbum, dois dubs siderais: "Dub It" (feita a partir de "Beat It") e "Close To Midnight" (de "Thriller"). O esmero e a musicalidade empregadas em Thrillah não deixam dúvidas sobre a relevância da homenagem: passa longe de um simples álbum de covers. Certeza que Michael Jackson aprovaria.
"Billie Jean": vou apertar, mas não vou acender agora.
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