Wednesday, October 26, 2011

Verde, Amarelo, Azul e Branco


Em 1990 o pop baseado em sintetizadores era rotulado como technopop. Depois apareceram os termos synthpop, electropop e agora parece que o chillwave colocou todo mundo embaixo da asa. Bom, não importa. Em 1990 as coisas eram deliciosamente mais ingênuas. Tanto que o tecladista brasileiro Marcelo Donolo e o vocalista argentino Filipo Crosso - vislumbrando uma hipotética carreira internacional - escolheram os nomes artísticos Mark Rhiley e Phillip Ashley apostando num possível sucesso além fronteiras de sua recém formada banda, o Tek Noir. Ambições à parte, não foi bem isso que aconteceu. Pior: parte da crítica supostamente especializada da época foi impiedosa e simplesmente não deu chance para o Tek Noir respirar. Mesmo com espaço significativo na extinta revista Bizz em entrevistas, resenhas de shows e letras traduzidas, haviam jornalistas que riam da nossa versão brasileira do formato clássico duo technopop. Lembro que o Camilo Rocha escreveu certa vez que um Information Society Cover brasileiro existia e já tinha até disco gravado: era o Tek Noir. Maldade. Até porque o Tek Noir nem tinha muito a ver com o grupo de Minneapolis, a não ser o fato de embasar sua música em sintetizadores, samplers e baterias eletrônicas - assim como o InSoc era chamado de "imitação do Depeche Mode" pela mesma revista, e nem era esse o caso. O Information era funky, tinha muito mais James Brown, Kraftwerk e Afrika Bambaataa nas veias do que new romantics brancos e europeus no seu som. A falta de referências (ou de informação) dava nisso. A curta carreira do Tek Noir durou dois discos, Alternative de 1990 e Destination de 1993, e depois disso, nunca mais ouvi falar da dupla Rhiley/Ashley. Alternative tem oito faixas e dois lados bem distintos: o primeiro mais pop e radiofônico, com canções notadamente influenciadas pela acid house ("Beat The Rhythm" e "One Way Or Another" ) e pela música sintética em voga na época (claramente Pet Shop Boys em "Drawings of Sorrow"). Já o lado B do vinil exercita a porção Noir da banda e abraça a EBM pesada de Front 242 e Nitzer Ebb (vocais agressivos, samples, ruídos industriais). O segundo álbum trilha o mesmo caminho. Embora um pouco menos inspirado do que a estréia, segue ainda com faixas bem estruturadas ("The Whole Of The World"), instrumental surpreendente pra uma banda eletrônica brasileira do comecinho dos 90 (a ótima "Falling In My Arms"), bons vocais e um tiquinho mais experimental (a climática instrumental "Twixt Land And Sea" ou a arrastada "Sensibility", por exemplo). Não sei realmente o que faltou pro Tek Noir deslanchar. Ambos os álbuns tem boas faixas, potencial para as FMs, imagem bem cuidada (a capa de Alternative foi fotografada por Bob Wolfenson), parecia estar tudo no lugar. Na época a dupla foi taxada como datada, mas em 2011 com esse tsunami retrô-moderninho, será que o Tek Noir teria alguma relevância?


"Beat The Rhythm": "move and house your body right".



"Falling In My Arms": hit de pista underground.

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